Protetor solar é ferramenta eficaz para prevenção do melanoma
Estudo de custo-efetividade realizado entre a população australiana comparou prevenção versus detecção precoce para o
controle de longo prazo de melanoma
André Murad - Oncologista, diretor Executivo da Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e
Oncogeneticista no Centro de Câncer Brasília / Cettro
O melanoma é o tipo de câncer de pele que mais mata, apesar de corresponder a apenas 1% dos casos que atingem
esse
órgão. A cada ano do triênio 2020/2022 deverão ser diagnosticados no Brasil 8.450 novos casos de câncer de pele tipo
melanoma (4.200 em homens e 4.250 em mulheres), conforme dados do Instituto Nacional de Câncer – INCA.
O melanoma, em geral, aparece em pessoas de pele clara, loiras, de olhos claros e devido à exposição à luz solar. É mais
comumente causado pela exposição intensa e intermitente ao sol – quando a pele fica avermelhada e depois descasca – do
que pela exposição frequente, mas menos intensa, que não causa vermelhidão. Claro, também há os casos de predisposição
hereditária.
Nas últimas décadas, consideráveis avanços nas terapias direcionadas para o melanoma em estágio avançado ganharam
notoriedade. Contudo, ao que parece, a ação mais eficaz é muito mais prática e individual. Um estudo australiano recente
concluiu que a maneira mais econômica de reduzir a incidência de melanoma e as mortes causadas por ele, em longo prazo,
é a prevenção primária com o simples uso diário de protetor solar. Isso mesmo, enquanto cientistas se debruçam em busca
de novas tecnologias de ponta para diagnóstico e tratamento, uma forma simples poderia reduzir drasticamente as mortes
por este tipo de câncer.
O estudo de custo-efetividade comparou o impacto estimado em longo prazo de três abordagens diferentes relacionadas ao
melanoma: 1 - uma estratégia de prevenção primária, que consistia basicamente em promover o uso diário de filtro solar e
outras formas de proteção solar; 2 - detecção precoce por meio de exames anuais de pele de todo o corpo por médicos a
partir dos 50 anos; e 3 - nenhuma intervenção.
A análise forneceu estimativas do número de casos de melanoma, mortes causadas por melanoma, câncer de pele não melanoma
e resultados de qualidade de vida ao longo de 30 anos, começando em homens e mulheres de 50 anos.
A prevenção primária por meio da proteção solar foi a vencedora, conforme demonstram os resultados:
1. Uma redução de 44% na incidência de melanoma, em comparação com a detecção precoce por meio de exames anuais de pele
pelo médico;
2. Uma redução de 39% nas mortes por melanoma projetadas em comparação com a detecção precoce, que, por sua vez, alcançou
uma redução de apenas 2% quando comparada com nenhuma intervenção;
3. 27% menos cânceres de queratinócitos (principal tipo celular da epiderme) do que com exames anuais de pele;
4. Uma redução de 21,7% nos custos sociais, em comparação com um programa de detecção precoce.
O uso diário de filtro solar para prevenção primária também foi associado a um aumento modesto de 0,1% nos anos de vida com qualidade considerável.
Para os pesquisadores, embora os participantes sejam principalmente de pele clara e enfrentem altos níveis de radiação
UV, no estado australiano de Queensland, onde ocorreu o estudo, limitando de certa forma a generalização dos resultados
do estudo, as relações entre os custos das estratégias de intervenção e seus resultados devem ser proporcional em outros
países. Aqui no Brasil, por exemplo, onde enfrentamos também grande incidência de raios solares, o hábito de uso diário
de protetor solar poderia ter um resultado fantástico de prevenção do melanoma e outros tipos de câncer de pele.
O uso de protetor solar está acessível atualmente para praticamente toda a população, e não podemos nos esquecer que a
prevenção precisa ser realizada de forma correta e completa. Não adianta usar o protetor solar uma vez no dia, passar
quando já se está exposto à radiação solar ou usar o fator de proteção muito baixo. É necessário manter o uso periódico
durante o dia, antes da exposição solar e no fator ideal para seu tipo de pele. É importante evitar o sol,
principalmente, entre as 10h e 15h30.
Seguir essas recomendações seria benéfico, inclusive, para os pacientes com predisposição hereditária não
diagnosticados. Claro, para aqueles que recebem diagnóstico, será criada toda uma estratégia personalizada de prevenção.
A mutação mais comum ocorre no gene CDKN2A causando a Síndrome Familiar dos Nevos Atípicos Múltiplos. A pessoa tem
muitos nevos. Um ou outro acaba malignizando e se transformando em melanoma, geralmente em pessoas jovens, abaixo dos 40
e 30 anos. Por isso, as pessoas com essas mutações devem visitar o dermatologista até duas vezes ao ano para detectar as
lesões ainda em fase inicial ou pré-maligna, para que ela possa ser removida antes de afetar a outros tecidos.
Importante destacar que a mutação desse gene também causa câncer de pâncreas e cerebral (astrocitoma). Então, pessoas
com esses casos na família devem ficar atentas e procurar sempre um Oncogeneticista para a devida orientação e
diagnóstico correto da doença.
*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica
integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de
Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos
fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.
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Fonte: Saúde Plena
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