Pacientes oncológicos não devem interromper tratamentos e precisam redobrar atenção contra Coronavírus

Tratamento da Helicobacter pylori em pessoas com história familiar de câncer gástrico pode reduzir risco de desenvolver a doença

Pessoas em tratamento com quimioterapia, radioterapia, corticoterapia (corticoides), imunossupressores, pacientes hematológicos ou que foram submetidos a transplante de medula óssea têm o sistema imunológico mais debilitado

*Dr. André Murad – Oncologista, oncogeneticista e diretor Executivo da Personal Oncologia de Precisão e Personalizada

Mesmo diante do alto poder de contágio por Coronavírus – COVID-19 e da confirmação de casos em Belo Horizonte, algumas pessoas ainda não entenderam a necessidade de seguir expressamente as recomendações de prevenção. Com isso, colocam em risco não só a própria família e amigos, mas toda a população.. Uma pesquisa publicada na revista Science mostrou que dois terços dos infectados não apresentam qualquer sintoma. Por isso, os cuidados de higiene e o isolamento devem ser seguidos por todos, não só por quem está com sintomas ou teve contato com alguém que veio do exterior. Uma pessoa sem sintomas pode estar passando o vírus para inúmeros indivíduos.

É fundamental que a população evite aglomerações como reuniões de qualquer tipo, transporte público, shows etc. Mesmo em nossa área médica, congressos eventos foram adiados. Atendimentos médicos só urgentes. Quem puder ficar em casa e evitar contato com outras pessoas, deve fazê-lo. Não abraçar, não beijar, não tocar outros indivíduos, limpar objetos tocados, não dividir itens pessoais são medidas básicas durante esse momento. É importante evitar ambientes fechados, sem ventilação.

A gente brinca que quando o sol sai, a saúde também sai e, onde o sol entra, a saúde também entra.

Cuidados específicos para pacientes oncológicos

Dito isso, também chamo atenção sobre os cuidados e orientações especiais para pacientes oncológicos. Pessoas em tratamento com quimioterapia, radioterapia, corticoterapia (corticoides), imunossupressores, pacientes hematológicos ou que foram submetidos a transplante de medula óssea têm o sistema imunológico mais debilitado e, por isso, podem contrair e desenvolver o Coronavírus (COVID-19) com mais facilidade.

Os pacientes hematológicos (leucemias e linfomas), por exemplo, têm as células de defesa comprometidas tanto pelo tratamento, quanto pelo próprio câncer. Terapias com corticoides deprimem a resistência, alteram o sistema imunológico e, por isso, há risco de contágio e de infecção mais grave. Já a quimioterapia diminui a função e muitas vezes a quantidade de células de defesas como linfócitos, plasmócitos, macrófagos. Essas células de defesa atuam como uma parede protetora que impede o vírus de entrar no organismo. Mesmo que o vírus entre, essas células, principalmente o linfócitos T, acabam por atacá-lo e matá-lo, antes que a infecção se instale. Então, se a pessoa está em tratamento com essas drogas, essa função apropriada das células imunológicas ficam comprometidas.

Além disso, o próprio câncer pode influenciar no quadro do Coronavírus. O câncer hematológico, por exemplo, pode alterar e reduzir a quantidade ou modificar a função das células de defesa, como macrófagos e linfócitos T e B.

Então, em primeiro lugar, essas pessoas não devem interromper o tratamento oncológico. Mas, devem redobrar a prevenção. Em nossa clínica, por exemplo, estamos permitindo a entrada de apenas um acompanhante e orientando que seja o mesmo em todas as consultas. Além disso, pacientes e acompanhantes estão recebendo máscaras ao entrarem na clínica, pois, como pode haver casos assintomáticos, preferimos que todos estejam devidamente paramentados. Funcionários que transitam pelas áreas com presença de pacientes, mesmo que não sejam da equipe médica e de enfermagem, também estão utilizando esse equipamento de segurança.

Também orientamos que pacientes permaneçam no local de tratamento estritamente o tempo necessário, cancelando visitas a outros pacientes. Devem evitar, de toda forma, ir a locais em que há possibilidade de contaminação, como hospitais, igrejas, supermercados e shopping centers. É fundamental evitar receber visitas. E em hipótese alguma devem ter contato com qualquer pessoa que veio do exterior, não só Itália, Espanha e China.

Além disso, devem manter um diálogo aberto com o médico de confiança, sem omitir informações. Todas as dúvidas devem ser tiradas, mesmo que pareçam óbvias. A fonte mais confiável é seu médico, não o grupo de Facebook e Whatsapp. Aliás, esse é um tópico que tem me preocupado: a difusão de informações incorretas, Fake News, mentiras por meio das redes sociais devem ser combatidas a todo custo. É importante que as pessoas não acreditem em informações que não sejam de fontes confiáveis e que sempre busquem fontes oficiais, como Organização Mundial da Saúde – OMS, órgãos de saúde, associações médicas, sites confiáveis de notícias etc. O próprio Ministério da Saúde está com o hotsite específico: www.coronavirus.saude.gov.br. Para finalizar, lembro: se puder, fique em casa.

*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.

Fonte: Saúde Plena

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