Dia Mundial do Câncer: ações anticâncer precisam ser diárias
Os 10 tipos de câncer mais comuns em 2020 são responsáveis por mais de 60% dos casos de
câncer recém-diagnosticados e mais de 70% das mortes pela doença; prevenção envolve hábitos
de vida saudáveis.
André Murad - Oncologista, diretor Executivo da Personal Oncologia de Precisão e
Personalizada e
Oncogeneticista no Centro de Câncer Brasília / Cettro
Nesta quinta-feira (4/2), temos o Dia Mundial do Câncer, data dedicada a chamar a atenção
sobre a necessidade diária de ações preventivas contra o câncer, tanto por parte da população,
como das autoridades governamentais e instituições de saúde.
O ano de 2020 não foi vitorioso para o combate ao câncer. Pelo contrário! O cenário de
pandemia ocasionou um efeito
cascata, resultando em um enorme retrocesso na prevenção, no diagnóstico precoce e no
tratamento de câncer em andamento,
visto que muitos pacientes tiveram suas rotinas alteradas. Isso, infelizmente, repercutirá em
maior diagnóstico tardio e
mortalidade nos próximos meses e anos.
Conforme os números do banco de dados GLOBOCAN
2020, acessível online como parte do IARC Global Cancer Observatory,
estima-se que a carga global de câncer tenha aumentado para 19,3 milhões de novos casos e
10,0 milhões de mortes em
2020. Quando projetadas para 2040, as estimativas sobem para cerca de 30 milhões de casos, um
aumento de 47% em relação
ao observado em 2020. Contudo, o impacto negativo da pandemia só ficará realmente perceptível no
futuro. Ou seja, esses
números deverão ser ainda maiores.
Os países classificados como de baixo ou médio Índice de Desenvolvimento Humano – IDH terão os
maiores aumentos de incidência de câncer até 2040, com 95% e 64% de acréscimo,
respectivamente,
a partir de 2020. O maior impacto proporcional é esperado na África, com +89,1% de novos casos,
seguido da América Latina, com + 65,6%, e Ásia: +59,2%.
A maior incidência nesses países reflete a mudança de hábitos de vida, com tendência à
adoção de
costumes comuns atualmente em países com IDH alto e muito alto: tabagismo, dieta não saudável,
excesso de peso corporal e sedentarismo. Dessa forma, e com base nessas informações, é
necessária uma intervenção para que, nesses países, as medidas de prevenção, diagnóstico e
tratamento possam minimizar essa tendência.
Os tipos de câncer mais comuns e os hábitos de vida
Os 10 tipos de câncer mais comuns em 2020 são responsáveis por mais de 60% dos casos de câncer
recém-diagnosticados e mais de 70% das mortes pela doença.
O câncer de mama feminino é o tipo mais comum em todo o mundo (11,7% do total de casos
novos),
seguido por câncer de pulmão (11,4%), câncer colorretal (10,0%), câncer de próstata (7,3%) e
câncer de estômago (5,6%). Com medidas preventivas simples, a população poderia
contribuir para
evitar ou reduzir as chances de surgimento desses tumores, até mesmo nas pessoas portadoras de
síndromes de predisposição hereditárias:
1. Não fumar e combater o tabagismo;
2. Evitar bebidas alcoólicas e combater o alcoolismo;
3. Manter dieta saudável com alimentos ricos em fibras, naturais, carnes brancas, cereais,
frutas e legumes;
4. Combater o consumo de carnes vermelhas ou processadas
5. Manter o Índice de Massa Corporal - IMC entre 18,5 e 24,9;
6. Vacinar-se contra HPV e Hepatite B;
7. Manter a prática periódica de atividades físicas;
8. Fazer a profilaxia e combater agentes infecciosos como vírus e bactérias (como Helicobacter
Pylori, hepatite C entre outras);
9. Proteger-se contra os raios solares;
10. Manter as consultas e exames de rotina em dia.
11. Para mulheres entre 25 e 64 anos, fazer o exame preventivo do câncer do colo do útero
anual;
12. Para homens a partir dos 40 anos, manter o rastreamento de câncer de próstata;
Por sua vez, quando falamos da mortalidade, o câncer de pulmão está à frente com
18,0% do total de mortes por câncer,
seguido por câncer colorretal (9,4%), câncer de fígado (8,3%), câncer de estômago (7,7%) e
câncer de mama feminino (6,9%).
Importante observar que, mesmo com a redução da mortalidade por câncer de pulmão em alguns
países como Estados Unidos (3% ao ano entre 2008 e 2013),
fruto de ações de combate ao tabagismo, esse tipo de tumor segue em liderança como causa
de mortalidade,
demonstrando a necessária ação conjunta das autoridades internacionais no combate a esse vício
tão nocivo, assim como para ampliação do diagnóstico precoce.
Da mesma forma, observa-se que esse hábito mais comum entre o público masculino tem sua
consequência lógica: é o câncer mais comumente diagnosticado e a principal causa de morte por
câncer em homens. Em incidência, após o câncer de pulmão, estão o câncer de próstata e o
colorretal. Já para a mortalidade, o câncer de fígado e o colorretal ocupam as posições
seguintes.
Entre as mulheres, o câncer de mama é o tipo mais frequentemente e a principal causa de
morte por câncer, seguido por câncer colorretal
e câncer de pulmão para incidência. No quesito mortalidade, estão o câncer de pulmão e o câncer
colorretal.
Adiamento da procriação e redução no número de filhos
Com 2,3 milhões de novos casos, 1 em cada 8 cânceres em 2020 é de mama. A doença está à frente,
inclusive, do câncer de pulmão em número de diagnósticos e configura-se como a quinta causa de
mortalidade por câncer, com 685.000 óbitos em 2020.
Nas mulheres, o câncer de mama é responsável por 1 em cada 4 casos de câncer e 1 em cada 6
mortes por câncer. Além disso, a doença é mais incidente em 159 países e a principal causa de
mortalidade por câncer em 110 dos 185 que o GLOBOCAN analisa. Para esse tipo de tumor, além da
prática atividade física, manutenção do peso corporal adequado, adoção de uma alimentação
saudável e combate ao consumo de bebidas alcóolicas, a amamentação, por estar relacionada
a
fatores hormonais, também é um fator protetor.
Por isso, em muitos países com IDH baixo e médio, onde começam a se estabelecer a cultura da
postergação da procriação e menor número de filhos, além de maiores níveis de excesso de
peso
corporal e sedentarismo, observa-se com atenção a maior tendência de incidência desse tipo de
tumor.
Se por um lado as taxas de incidência de câncer de mama estão convergindo em todo o mundo, com
tendência de crescimento entre países de IDH baixo e médio, as taxas de mortalidade por câncer
de mama e as proporções de sobrevivência são menores nas regiões com IDH inferior, em grande
parte devido às limitações de diagnóstico precoce e de acesso a tratamentos.
Em análise geral dos dados, observamos que é natural o aumento de registros de câncer diante do
crescimento da população mundial, do aumento da longevidade humana e do melhoramento das
ferramentas de diagnóstico. Contudo, o melhor acesso às informações sobre prevenção deveriam
repercutir na maior constância de atitudes anticâncer, tal qual o diagnóstico precoce deveria
impulsionar a redução da mortalidade.
A população deve focar na prevenção possível de ser feita no dia a dia. Atualmente, uma
em cada 5 pessoas em todo o mundo desenvolve câncer durante sua vida; um em cada 8 homens e uma
em cada 11 mulheres morrem da doença. Cabe não só às autoridades o desenvolvimento de ações
conjuntas para mudar esse cenário, mas também a cada pessoa a adoção de rotinas anticâncer.
*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É
diretor-executivo na clínica
integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo
Brasileiro de Oncologia de
Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas
causas (carcinogênese), dos
fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo
precocemente.
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Fonte:
Saúde Plena
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