Embora raro, câncer cerebral apresenta baixas taxas de cura e sobrevida
Os sintomas da doença variam conforme localização do tumor no cérebro e incluem dores de cabeça, convulsões,
problemas de visão, vômitos, déficits motores e sensoriais, perturbações mentais e dificuldade de caminhar e falar
Dr. André Murad - Oncologista, oncogeneticista e diretor Executivo da Personal Oncologia de Precisão e Personalizada
Volta e meia alguma personalidade vira notícia ao ser diagnosticada com algum tumor, a exemplo do atual prefeito de São
Paulo, Bruno Covas, que se trata de um câncer na cárdia - transição entre o esôfago e o estômago - com metástase no
fígado; ou ao falecer devido o avanço do tumor, como Marie Fredriksson, vocalista da famosa dupla sueca Roxette.
A cantora faleceu no começo de dezembro, aos 61 anos, após 17 anos lutando contra um câncer no cérebro. Marie contou com
todos os recursos disponíveis em sua luta contra a doença e conseguiu um sobrevida consideravelmente longa. Em geral,
pessoas com este tipo de tumor não sobrevivem mais de 5 anos após o diagnóstico, conforme mostram estudos da área.
O tumor cerebral ou neoplasia intracraniana é considerado grave e afeta funções motoras do corpo. Ocorre quando se
formam células anormais no cérebro e pode ser de dois tipos: tumores benignos, que são facilmente tratados, e malignos
(ou cancerosos), que subdividem-se em dois tipos: primários e secundários.
Tipos de tumor
Enquanto os tumores malignos primários começam a se formar no próprio cérebro, os tumores malignos secundários nasceram
em órgãos fora do cérebro, mas se espalharam em forma de metástases, atingindo o cérebro.
Tumores cerebrais manifestam sintomas que variam conforme a parte do cérebro afetada. Os sintomas incluem dores de
cabeça, convulsões, problemas de visão, formigamentos, déficits de força muscular e sensoriais, vômitos e
perturbações mentais. A dor de cabeça é geralmente mais intensa durante a manhã e desaparece após os vômitos. Alguns
tipos de tumor podem provocar dificuldade em caminhar e falar.>
Os tumores do cérebro secundários, ou metástases, são mais comuns que os tumores do cérebro primários. Cerca de metade
das metástases é proveniente de um câncer de pulmão ou de mama. Já os tumores cerebrais primários afetam cerca de 250
mil pessoas por ano em todo o mundo, o que corresponde a menos de 2% do total dos casos de câncer. Em jovens com idade
inferior a 15 anos, os tumores do cérebro são a segunda principal causa de câncer.
Causas
A causa da maior parte dos tumores cerebrais é desconhecida. Entre os fatores de risco que podem ocasionalmente estar
envolvidos estão uma série de condições hereditárias conhecidas, como a Neurofibromatose e a Síndrome de Li Fraumeni,
além das causas adquiridas como a exposição ao cloreto de vinil, ao vírus de Epstein-Barr e à radiação ionizante. Os
tipos mais comuns de tumores primários em adultos são os meningiomas (geralmente benignos) e os astrocitomas, tais como
os gliomas e os gliobastomas (malignos).
Em crianças, o tipo mais comum são os meduloblastomas malignos. Linfomas também podem acometer primariamente o cérebro.
Estes tumores respondem melhor ao tratamento químio e radioterápico. Nos casos de suspeita de tumores resultante de
síndromes hereditárias de predisposição a câncer, um oncogeneticista sempre deve ser consultado, e uma vez identificada
a alteração genética, demais membros da família devem se submeter à pesquisa da alteração genética específica.
Diagnóstico e tratamentos personalizados
O diagnóstico é geralmente realizado através de exame clínico auxiliado por imagens de tomografia computadorizada ou
ressonância magnética. O diagnóstico pode ser confirmado por biópsia. Com base nas observações patológicas, os tumores
são divididos diferentes graus de gravidade.
O tratamento pode incluir uma combinação de cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Nos casos em que ocorrem convulsões
podem ser administrados anticonvulsivantes. Para diminuir o inchaço à volta do tumor podem ser administrados
corticosteroides.
Assim como para outros tipos de tumor, a criteriosa análise molecular, disponível com o avanço da oncogenética e
oncogenômica, pode ser um diferencial para o tratamento dos pacientes. Certa vez, um paciente meu portador de
glioblastoma multiforme foi operado, mas, como o tumor ocupava uma área nobre do cérebro, a cirurgia foi apenas parcial.
Por isso, uma grande quantidade de tecido tumoral remanescente ainda causava muitos sintomas e déficits neurológicos.
Diante do quadro, solicitei um sequenciamento em NGS do tumor e uma pesquisa de metilação do gene MGMT, sendo que os
resultados confirmaram a metilação do gene MGMT e também uma mutação do gene IDH1. Ambas as alterações moleculares
indicam, além de um melhor prognóstico da doença, uma melhor resposta ao tratamento combinado de um quimioterápico, a
temozolomida, e a radioterapia. E assim se sucedeu: o tumor regrediu totalmente com a terapêutica e assim permanece, há
dois anos do início do mesmo.
Prognóstico
Apesar de os tumores no cérebro serem graves, alguns crescem lentamente, sendo apenas necessária monitorização e
possivelmente sem necessidade de intervenção no futuro. O prognóstico varia consideravelmente de acordo com o tipo de
tumor e de quanto se encontra disseminado no momento do diagnóstico.
O prognóstico dos glioblastomas é geralmente pouco favorável, enquanto os meningiomas têm geralmente prognóstico
positivo. Mais recentemente, o tratamento alvo-molecular vem ganhando aplicação no tratamento de gliomas e
glioblastomas. O melhor exemplo é quando encontramos uma fusão dos genes NTRK. Nestes casos, o uso de uma medicação já
aprovada no Brasil e chamada larotrectinibe pode propiciar resultados excelentes.
A boa notícia é que também estão sendo investigados tratamentos à base de imunoterapia, os quais estimulam o próprio
sistema imunológico do paciente a combater a doença. Quem sabe, a próxima notícia seja que os pesquisadores encontraram
respostas positivas em tratamentos personalizados e individualizados também para este tipo de tumor. Vamos torcer!
*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica
integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do
câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo
e diagnosticá-lo precocemente.
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